Quem sou eu

Minha foto
Treinador de Futsal/Futebol - Coordenador Técnico Iniciação - Clube Atlético Mineiro - Graduado em Educação Física - UFMG, Especialista em Futsal e MBA em Gestão de Pessoas

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Agassi x Nadal

Há quase um ano comecei a jogar tênis, e a prática desse esporte vem contribuindo para lidar melhor com algumas situações. No tênis, qualquer erro cometido deve ser esquecido imediatamente,  o jogo não te permite  lamentar um equívoco. Você deve ser estar concentrado no próximo ponto, e no próximo….é ele que pode fazer toda diferença, para esse esporte vale o clichê  ´´o que já foi não volta mais´´. Caso você não consiga superar uma falha, o braço endurece, e um dos requisitos básicos do jogo que é ´´olhar para a bolinha´´  ao executar a técnica  não é realizado…….o olhar fica no horizonte, e a bolinha nas alturas, isso quando ela não pega no cabo da raquete!
Situação essa que é vivida em outros esportes, seja como atleta, seja como treinador. Em relação a esse último estamos tomando decisões a todo momento, antes da partida, durante a partida e nas infinitas noites sem dormir após elas. Pensamos na estratégia a utilizar, nas substituições a fazer, etc. E fazemos essas escolhas baseados nos treinos, videos, números  que nos mostram as  probabilidades de nossas ações darem certo (estamos lindando com estatísticas o tempo todo durante o jogo), mas mesmo respaldados por várias coisas essas decisões podem não dar resultado (lembram que os esportes coletivos são imprevisiveis) e se crucificar e remoer os erros pode ser fatal para a próxima ação sua ou do seu atleta.
Refletindo sobre essas questões do tênis que a todo  momento transfiro para a realidade vivida pelos  treinadores,  venho  me interessando pela modalidade cada vez mais e comecei a ler  sobre ela. Além dos livros que explicam a técnica, me interessei pelas grandes personalidades e li algumas biografias, dentre elas: ´´RAFA – a minha história´´, livro que conta a trajetória do tenista Rafael Nadal  e ´´AGASSI – autobiografia´´, do já aposentado tenista André Agassi. E algumas coisas desses dois que fizeram história no tênis são no mínimo intrigantes.
AgassiNadal


É indiscutível que ambos foram jogadores vitoriosos,  batendo recordes em número de Grande Slams vencidos. Mas enquanto Nadal em toda sua carreira teve o ´´apoio familiar´´ (requisito fundamental descrito na literatura no processo de ´´expertise´´), Agassi sofreu com a pressão e personalidade do pai.
A estrutura familiar que Rafael afirma ser o seu grande diferencial, sendo que seu ´´Tio Tony´´ é seu treinador até hoje e foi quem o treinou durante toda a vida, não é vista na trajetória de Agassi, que na infância e adolescência teve várias brigas com o pai e com o irmão, que também jogou tênis um tempo (irmão esse que depois se tornou um grande amigo, porém a relação com o pai só piorou no decorrer dos anos).
O ´´Porto seguro´´ de Nadal, foi na verdade o descompasso de Agassi, que se revelou rebelde durante algum tempo, muito em virtude do seu pai transferir toda a frustação que teve no esporte para uma criança, que desde pequeno cresceu escutando que teria que ser o número 1 do mundo. E não é que foi!!!!!
Outro item, que sabe-se ser fundamental na consolidação de um ´´expert´´ é a ´´prática deliberada´´. Prática essa que consiste em atividades estruturadas que objetivam a contínua evolução do desempenho, ou seja um processo de treino planejado e organizado por um mentor (Samulsky, 2002).
E ambos tiveram???
Pode-se dizer que sim, mas enquanto André considerava que o seu maior inimigo era a máquina que cuspia bolas de tênis que seu pai criou, Rafael amava treinar, e por algum tempo até futebol jogou, diversificou!

Nadal  experimentou, praticou outros esportes, não se especializou precocemente, enquanto Agassi não fez outra coisa, o que acabou fazendo com que odiasse o que  o tornou famoso e rico.
Agassi não seguiu a lógica, a relação humanista que o  mentor tem com seu pupilo na preparação e no estabelecimento das metas não aparece na sua carreira. O que se vê é sua ´´briga mental´´ em tentar realmente se compreender enquanto indivíduo, e depois como tenista. André Agassi, mesmo perturbado pela sua infância traumática, conseguiu suportar toda pressão e para susto ou orgulho do seu pai foi durante um bom tempo um numero 1 do mundo.
Nadal, em contrapartida,  é o exemplo a ser seguido, teve em todo os momentos tudo que um alteta com potencial  precisa para ser tornar um ´´expert´´, e mesmo não sendo tecnicamente nem próximo dos melhores, possui ainda sim um algo a mais, que é demonstrado nos choros nos vestiários após suas derrotas, na sua atuação aos 17 anos representando a Espanha na Copa Davis,  ganhando de RODDICK e nas bolas ´´perdidas´´ que alcança!
Apesar de histórias muito diferentes possuem algo em comum, acredito que ambos não teriam alcançado o nível que estão se não tivessem rivais que forçassem a evoluir sempre. Agassi fez confrontos históricos contra ´´Pete Sampras´´ e mais recente Nadal decidiu inúmeros títulos contra  ´´Roger Federer´´
Analisando a trajetória dos dois, fica dificil avalia-los isoladamente, decidir qual foi o melhor….
Não é mesmo???!!!!





domingo, 15 de janeiro de 2012

Futebol de rua, a ´´nova´´ forma de se ensinar o jogo

 

´´ A bola não tem material nem tamanho certo; na sua ausência procura-se algo que se lhe assemelhe. Sem coletes, caneleiras e muitas vezes descalços, nada os impede de jogar. Os campos, esses não são difíceis de delimitar, bastando quatro pedras para assinalar as balizas. O terreno é deveras irregular, nada que incomode, beneficiando até os melhores. As regras são estabelecidas no momento e face ás circunstâncias, não há horas nem número de jogadores para iniciar o jogo e muito menos para terminar, a noite cai mas nada os demove, pois o prazer pelo jogo é mais forte que tudo o resto.´´ (Garganta & Fonseca, 2006).

A passagem acima ilustra bem como antigamente, a maioria dos jogadores profissionais se formavam no futebol. A ´´rua´´ foi palco de vários artistas que surgiram para o ´´mundo da bola´´. Antigamente??? Sim, é claro e notório que com o crescimento e desenvolvimento das grandes cidades por inúmeros motivos (entre eles a violência) essa prática foi desaparecendo ao longo do tempo, e com ela a melhor escola para se aprender a ´´jogar´´ (englobando toda complexidade desse conceito).

Como nessa passagem que Jorge Valdano (2002) afirma: ´´A tecnologia de ponta do Futebol é a rua e a miséria. Numa partida improvisada de imediato alguém inventa algo. No meio desse combate de pés descalços, um jogador que possa não ser muito alto, nem muito forte, nem muito rápido, soluciona um problema de forma original. Com uma recepção e um toque três adversários são ultrapassados. O jogador não usa o catálogo de soluções conhecidas, cria.´´

Então para se jogar futebol, tem que ser pobre??? De forma alguma, porém os menos favorecidos são os que experimentam mais, são eles que frequentemente jogam descalços, em campos irregulares e com bolas de meia o que é fundamental para o processo de aprendizagem do jogo, pois tudo isso aumenta a variabilidade das ações, condicionando a se adaptar o tempo todo, o que gera padrões flexíveis de movimento. Tudo isso fundamental para a formação de um JOGADOR.

´´Conduzir a bola descalço, sem torcer o pé num daqueles buracos , já seria uma façanha. Driblar perto da ribanceira sem deixar a bola escorrer por ela, a façanha ainda era maior. Garrincha praticava as duas proezas com a maior das facilidades. No primeiro caso, porque de tanto ´´topar´´ com os buracos, aprendera a dribá-los junto com o adversário; no segundo, porque detestava ter de descer a pirambeira para ir buscar a bola – onde tentava não perde-la.´´ (Castro, 1995)

Os com poder aquisitivo mais alto jogam também, mas ou no ´´vídeo game´´ ou então pagam para ´´driblar cones´´.
Aí aparece a grande importância das ´´escolas de futebol´´, e essa importância não está em colocar os ´´futuros campeões´´ para driblar adversários estáticos, mas sim em reproduzir aquela realidade da ´´rua´´ que infelizmente não conseguimos mais ver a nossa volta.

Reproduzir aqui seria, criar contextos semelhantes, mas mantendo o ´´coração e alma do jogo´´.
A tarefa de quem assume a responsabilidade de ensinar é muito difícil, pois primeiro busca-se a essência do ensino, que nessa realidade era o que rua proporcionava, e depois tenta-se reproduzi-la numa outra realidade, a aula, na qual o muro que se faziam infinitas tabelas, passa a ser coringas nas laterais, que as traves que era tijolos ou pedras passam a ser ´´discos´´ que delimitam o mesmo espaço, e as regras que geravam discussões e brigas, são combinadas e construídas juntas. E a quantidade de prática que hoje são duas horas semanais, eram oito diárias. Na verdade não é tão difícil assim, é preciso só um algo mais....

Esse algo a mais irá fazer com que o aluno tome goste por aquilo, se divirta, ai a quantidade de horas praticadas não será um problema...
 
As passagens foram tiradas do livro: ´´ Futebo de rua – um beco com saída´´
(Fonseca & Garganta, 2006)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Modelo de jogo, um bom começo para a temporada

 

´´ O êxito no futebol tem mil receitas. O treinador deve crer numa, e com ela seduzir os seus jogadores.´´    (Valdano,1998)

 

A frase acima não deixa dúvida, no esporte não existe verdade absoluta, acredito que não seja só no esporte, mas aqui é o que nos interessa. Há muito venho editando e analisando vários jogos de futsal das principais competições nacionais, buscando entender a ´´essência´´ de cada equipe, na verdade não só das ações dos jogadores, mas do que está por trás disso. E o que está por trás disso???

O que o treinador acredita! (Na verdade não edito a Equipe, e sim o Treinador)

Essa foi a resposta mais rápida que passou pela minha cabeça. Se a concepção de ´´treinar´´ é condicionar comportamentos, nada mais certo que se um treinador acreditar em algo, ele irá condicionar seus atletas a agirem daquela forma. (assunto abordado no ´´post – Treinando princípios e não exercícios´´).

E inevitalmente, o treinador tendo ou não consciência disso, ele tem um ´´Modelo de jogo´´.  Segundo Moigne (1990), se se pretende dar forma a um fenômeno complexo, deve-se modela-ló . O mesmo autor afirma que um modelo serve para tornar inteligível e entendível algo que é complexo, e nada como a complexidade dos jogos esportivos coletivos para despertarem a necessidade de elaboração de um modelo. Ou seja, o treinador tem um conjunto de idéias relativas ao jogar que pretende, e isso irá orientar todo processo de treino.

Levando isso em consideração, o modelo de jogo é imprescindível na construção de uma equipe, uma vez que ele orientará tudo. Além disso, será um ´´guia´´, um referencial, principalmente nos momentos que os resultados não aparecerem e que a pressão por todos os lados aumentar. Ele permitirá que a comunicação motriz dos jogadores esteja sem ´´ruído´´  algum, mesmo no momentos mais difíceis.

 

´´Formar uma equipe é como criar um estilo, uma atmosfera. Trata-se, acima de tudo, de dar alma a um conjunto de onze futebolistas.´´

(Lobo, 2003)

Mas, essa idéia comum de jogo deve ser embasada por Princípios, e esses devem ter sustentação de sub-princípios que não surgirão da noite para o dia.Para se ter um ataque consistente, uma defesa que desarma  e um contra-ataque eficiente será  preciso experimentar, tentar, errar, estudar….

E com o tempo você vai acreditando no que você está fazendo, e seus jogadores começam a acreditar em você, até o ponto que eles acham que foram eles os criadores de tudo!

Caso isso aconteça, perfeito!!!! É sinal que realmente eles estão bem treinados naquilo que você delimitou como seu ´´modelo de jogo´´.

Na verdade, todo esse processo é construído em conjunto, pois lembre-se que seus princípios devem ser ESPECÍFICOS ao perfil de jogadores daquela temporada.

 

´´Não adotamos um modelo de jogo, nós criamos um modelo de jogo.

(Oliveira, 2004)

 

Além de serem específicos ao perfil de jogadores, também devem ser específicos a ´´cultura´´  do clube  e a estrutura do clube. Não  adiantará você ter uma equipe com pouca qualidade técnica e querer ter um ataque consistente, a definição do modelo envolve também o conhecimento do treinador para tomar decisões naquele momento e também o conhecimento da modalidade.

Mas, cuidado!!! Será que a criação de um modelo de jogo não tornará

sua equipe previsível???

No treino tem que existir espaço para a individualidade, para a inovação (situações muitas vezes difíceis para os treinadores perfeccionistas como eu , que desejam controlar tudo!!!), pois são elas que desequilibrarão uma partida.

Caso contrário uma edição de vídeo numa preleção antes do jogo  pode interferir no resultado….

 

´´O futebol é uma combinação de organização coletiva, mas de exaltação da capacidade individual.´´

(Valdano, 1998)

 

 

Citações foram tiradas do estudo:

(Batista, 2006) Organização defensiva: Congruência entre os princípios, sub-princípios e sub-sub-princípios de jogos definidos pelo treinador e sua operacionalização. Monografia de licenciatura em Desporto e Educação física, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.